
Correu um boato de haviam encontrado espermatozóides no reto de Ötzi. A comunidade científica GLS ficou eufórica: fora descoberta a primeira múmia gay da história. Aquele seria o elo perdido, ou “aquele com o elo perdido”, sei lá. A comunidade científica homofóbica ficou bege. Disseram que “não foi bem assim”; que o corpo de Ötzi tinha sinais de violência e que, na verdade, ele foi estuprado. No final tudo não passou de um 1º de abril: a história fora inventada (2).
Porém o conteúdo intestinal de Ötzi ainda rendeu controvérsia. Por meia da análise do cabelo de Ötzi (que cabelo?), Macko e colegas (1999) concluíram que ele era vegetariano, ou até mesmo “vegan”, baseados no conteúdo de nitrogênio capilar (3). Mas tudo indica que ele era omnívoro mesmo (4). Sua última refeição incluiu um veado vermelho (Cervus elaphus). Ele comeu um veado! Pronto. Falei.
Por esse tipo de fofoca sobre alguém que morreu há cinco mil anos, David Sharp, o afiado ex-editor da revista Lancet, escreveu: “não está na hora de deixar Ötzi em paz?” (2) Parece que ninguém leu.
Desde sua descoberta, os cientistas assumiram Ötzi foi soterrado nos Alpes após ter sido ferido com uma flecha. Mas uma nova análise da distribuição dos pertences de Ötzi em torno de seu corpo, publicada na edição de setembro da revista Antiquity (resumo), levanta a possibilidade de que ele morreu perto de outras pessoas, que fizeram seu funeral as montanhas, a uma altitude de 3 km acima do nível do mar (6).
Fala sério, essa teoria parece meio furada... Quem iria subir uma montanha gelada de três mil metros para enterrar alguém? Mesmo que fosse pra ter certeza de que ninguém iria encontrar o corpo?
Deixem Ötzi em paz.
Referências:1. Maderspacher F. Otzi. Curr Biol. 18(21):R990-1, 2008.
2. Sharp D. Time to leave Otzi alone? Lancet 360(9345):1530, 2002.
3. Macko SA et al. Documenting the diet in ancient human populations through stable isotope analysis of hair. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 354(1379):65–76, 1999
4. Dickson JH et al. The omnivorous Tyrolean Iceman: colon contents (meat, cereals, pollen, moss and whipworm) and stable isotope analyses. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 29;355(1404):1843-9, 2000.
5. Rollo F et al. Otzi's last meals: DNA analysis of the intestinal content of the Neolithic glacier mummy from the Alps. Proc Natl Acad Sci USA. 99(20):12594-9, 2002.
6. Vanzetti1, A et al. The iceman as a burial. Antiquity 84(325): 681–692, 2010.